Eu tinha matado o Anticult, porque não tava me identificando com aquela zona gratuita. Então veio a idéia de criar um blog pessoal, pra eu botar meus estresses pra fora e, quando não houvesse estresse, escrever algo legal sobre mim... ou sobre qualquer coisa que me interesse. Enfim... tinha outro nome em mente e tal, mas esse me veio como um
insight. É que passo 16% da minha vida no busão. É foda, mas é verdade. Às vezes foda, às vezes massa, depende da minha taxa de otimismo...
No começo dessa semana, peguei um busão e fui premiada com a ilustre presença de um cara porra-louca que foi discursando o caminho inteiro: não se podia ler, dormir, conversar nada. Até então, beleza. Eu tava p da vida, mas ainda não tinha me dirigido a ele. Já no fim do caminho, o o perturbado começou a dizer que todo mundo se importava por ele estar falando, mas ele estava compartilhando cultura, conhecimento, e que ninguém se preocupara com alguém que conversava com o motorista naquele momento, afirmando que isso, sim, era proibido. Ele dizia, cheio de ironia: "E então? Vocês não leram? 'Fale com o motorista somente o indispensável.' Mas ninguém se importa enquanto tem alguém pondo nossa vida em risco, desviando a atenção do motorista". Aí eu surtei. Aquele corno tinha passado dos limites. O coro comeu:
Eu: Quem é o senhor pra dar exemplo? Não sabe respeitar o espaço dos outros.
Ele: Eu estou respeitando. Se você dissesse que não gosta, eu me calaria. O rapaz ali pediu, e eu me calei.
Eu: Se o senhor calou, de quem será a voz que estou ouvindo? Tenha o mínimo de respeito; o senhor não deixa ninguém ler, dormir, eu estava tentando ler um livro e você não deixou.
Ele: Ônibus não é lugar de dormir.
Eu: E por acaso é lugar de dircursar? É palanque?
Ele: Por que você não reclama do cara que está conversando com o motorista?
Eu: Porque ele não me incomoda, o senhor sim.
E então chegou minha parada e eu desci. Segui pensando que o busão é um espaço tão meu que começo a perder o controle quando acontece uma dessas. E quem me conhece sabe que não engulo esse tipo de merda: nem tarados que se esfregam em meninas, nem evangélicos que sobem pregando, nem homens que se sentam com a perna superaberta (como se tivesse três ovos) e nos espremem na cadeira, nem portadores de radinhos de pilha que ouvem num volume altíssimo. Porque, convenhamos: se nós dependemos dele, se nós não temos escolha para locomoção, se o busão é um espaço coletivo, não custa fazer sua parte para torná-lo, senão agradável, pelo menos suportável.
Acho que há muita história para compartilhar.