Tudo bem que já se foi o tempo em que o Natal era uma festa religiosa tratada como tal. E eu não sou a pessoa mais indicada para criticar isso. Todo mundo sabe que a festa religiosa pode ser resumida em duas palavrinhas:
comércio e
farra. Até aí, tudo bem: cada um que faça o que bem quer da sua cabeça e do seu bolso. Eu mesma sou uma que adora andar pelas lojas no meio dessa agitação. Sei que vou encontrar gente mal-educada empurrando: não importa. Filas enormes: não importa. Atendimento ruim: não importa. Agora:
versão em samba de músicas natalinas é pra se f****! Sei lá quem foi a mala-sem-alça que teve essa infeliz idéia (parece que Jorge Aragão, que adora pegar músicas religiosas e avacalhar com a sua musiquinha de qualidade discutível). Depois de Simone, com o seu "Então é Natal, e o que você fez?" (bem menos insuportável do que os sambinhas natalinos), vem agora essa invenção muito tocada em lojas durante essa temporada.
(E eu sinceramente ainda não entendi a intenção do lojista. Atrair ou espantar clientes? Sei lá... De repente ele deseje menos clientes porque não teve dinheiro para investir em estoque ou pessoal... pra colocar uma música dessas, tudo é possível. Eu diria até provável.)
Ouvir esses sambinhas me entristece muito. Não só porque eu detesto esse tipo de música. Nem apenas porque eu não concordo com essa prática de pegar algo que é tradicional, até folclórico, e avacalhar para tapar o buraco da sua falta de criatividade para produzir algo novo. Mas o pior é minha infância virando sambinha. Fico pensando naquele disquinho de vinil que quase toda família tinha em casa, com músicas natalinas em arranjos de harpa (americaninho, mas bem produzido), com aquela árvore de Natal e aquele papai-noel na capa. E vejo a que ponto esses pagodeiros mercenários chegaram. Só espero que no próximo lançamento Jorge Aragão não resolva se vestir de papai-noel...